Com a missão de ajudar, jovens trocam a Alemanha por Ribeirão das Neves

Voluntários alemães têm entre 18 e 24 anos; missão do grupo é revitalizar ONG na região metropolitana — Foto: Flavio Tavares/ O Tempo

Treze jovens com idades entre 18 e 26 anos deixaram temporariamente suas casas no Estado da Baviera, no Sudoeste da Alemanha, para colocar a “mão na massa” e reformar uma filial da ONG Kolping, localizada no bairro Santinho, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte. A instituição filantrópica, da qual os voluntários fazem parte, foi criada na Alemanha em 1935 e atende crianças, jovens e adultos carentes no Brasil e em vários outros países. A unidade que vai ser revitalizada atende 428 pessoas, entre  crianças, jovens e adultos e oferece cursos de capacitação profissional, além de oficinas culturais e uma creche. 

Em Ribeirão das Neves, toda ajuda é bem-vinda. O município, que tem 296 mil habitantes, está entre as 200 cidades de Minas com os piores índices de pessoas inseridas no mercado de trabalho. Além disso, mais de um terço da população ganha, no máximo, meio salário mínimo, segundo o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Força-tarefa 

Durante 15 dias, os voluntários alemães vão pintar grades, construir um jardim suspenso, fabricar brinquedos e trocar experiências de vida com famílias do bairro Santinho, que ofereceram abrigo aos jovens durante a estadia no Brasil.

Mesmo sem falar português, o diálogo é constante entre alemães e brasileiros, que usam aplicativos tradutores de idiomas e até gestos para conversar. Estudante de engenharia econômica na Alemanha, Katharina Wagner, 25, é a única que sabe falar algumas palavras em português. “Vou voltar para a Alemanha com todo o amor e o carinho que eles estão nos dando aqui”, comentou.

Além de fazer um jardim suspenso na entrada da ONG e reformar o campo de futebol para o entretenimento na comunidade, Katharina conta que o grupo pretende fazer uma “horta com tomates e plantas”, garantia de alimento para quem frequenta a instituição. Os jovens também pretendem rebocar e pintar paredes do prédio, mas a chuva sem trégua tem dificultado a missão.

O estudante de engenharia mecânica, Michael Hamm, 22, ainda se adapta ao calor de Ribeirão das Neves. Apesar da diferença do clima, ele está animado com as aulas de capoeira e de dança que está tendo com brasileiros e até já arrisca passos de forró. Mas a maior satisfação ele encontrou ao dar mais cor à ONG, que, com ajuda de suas mãos, ganhou grades em tons de laranja e preto, que representam a instituição. 

Formações diferentes

Entre os jovens que vieram da Alemanha, há estudantes de engenharia, enfermeiro e profissionais de várias outras áreas, como pedagogo, marceneiro, jardineiro e eletricista. “Estamos aproveitando as habilidades deles para melhorar as nossas coisas aqui”, disse a voluntária da Kolpinig Santinho, Glória Tereza Melo Lisboa. 

“É uma troca de experiência muito grande. O trabalho desses jovens na Alemanha é mais para captar recursos para enviar para outros países. Eles sempre viajam para fazer alguma coisa. Aqui em Neves, a gente pediu para arrumar a frente da nossa casa, que está muito feia”, disse.

Dois mundos, duas realidades

A empregada doméstica Eva Nália Batista Bessa, 57, hospeda dois rapazes alemães em casa: Max e Thomas. “A gente consegue conversar pelo aplicativo. Eu falo na minha língua e eles traduzem para a língua deles. Tudo para eles é novidade: as plantas, as galinhas, o lugar, que é muito espaçoso. Eles falam que ficam bem à vontade em minha casa. Às vezes, eles saem à noite com a turma. Quando retornam, sentam à mesa, batem papo, comem pipoca, tomam refrigerante e cerveja. Depois, eles vão para a cama”, contou Eva, que mora sozinha e é voluntária uma vez por mês na ONG do bairro Santinho.

“É uma cultura bem diferente da nossa. A gente aprende com eles e eles aprendem com a gente. São divertidos. Eles ficam rindo porque a gente não entende muita coisa que eles falam, e a gente também. Depois das refeições, eles cantam uma música de agradecimento para a gente. Eu não entendo o que é mesmo, mas sei que é para agradecer”, disse Eva.

Os visitantes também têm as suas observações. “Pessoas aqui são mais simpáticas. A comida também é diferente. Comem mais açúcar e muita carne”, comentou o estudante de pedagogia Philipp Heiderkampf, 20. “Eles têm muito interesse na família. Aqui a família é maior. Tem a tia, a tia da tia. São todos muitos amigos. Na Alemanha, o núcleo é pequeno”, observou a estudante de engenharia Katharina Wagner, 25.

A criançada de Neves se diverte com os alemães. Lucas Henrique Gomes Barbosa, 13, também frequenta a ONG Kolping e contou que aprendeu a jogar ioiô inglês com os visitantes. Já o estudante Joubert Rafael Wender Soares Aguiar, 11, participa de vários cursos na ONG. Como a escola dele está em greve, o garoto passa o dia todo no local acompanhando o trabalho dos alemães. 

“A casa está ficando muito bonita. Já fiz muitas amizades com eles. Já ensinei um pouco da nossa língua, mas não entendo o que eles falam. A gente conversa por sinais. Eles trabalham muito e são alegres. Trouxeram muita alegria para a gente e aprendi várias brincadeiras com eles”, detalhou Aguiar.

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